De Mara Paulina Arruda
Cantei a música Madalena na frente da turma no último ano na
escola. Suada após uma partida de vôlei enfrentei os olhares daquele bando. O
pó nos tênis e, firme, cantei com as forças de minha alma. Era engraçado. Foi.
Quando voltei para casa sentia uma espécie de sucesso e
fracasso. Queria contar a todos mas encontrei Terezinha parada na porta com as
mãos na cintura. Estava encafifada. Pareceu-me uma personagem, parte de um
quadro de Fernando Botero. Era todo um círculo. As maçãs do rosto avermelhadas
e os braços roliços. Gorda de corpo seu coração parecia. Quando ela passou na
porta o papagaio repetiu Terezinha Terezina.
Ex-namorada dele ficou encafifada.O namoro havia terminado;
aquele romancezinho fazia uma semana que findava. (Juraram amor eterno!) Eu ri
dessa promessa. Os amantes são assim.
Ele era. Ele é. E sendo um sujeito talentoso às vezes
exagera. Um cidadão que toca violoncelo. Nas vezes que errou foi por pura
distração artística. Certamente prestava a atenção no canto de algum pássaro ou
no zunido de alguma abelha. Coisas da Arte!
Agora, o fato foi que eles acabaram por conta que esse cabra
irritou-a com o seu jeito arrogante de enfrentar as dificuldades da vida.
Sentia-se injustiçado. Ora vejam! Eu, uma boca aberta logo vi. E ela, não
tardou.
Terezinha dizia que o neném tinha chorado a noite toda.Com o
bolo de fubá no forno correu até ali para saber alguma notícia. Não queria se
zangar mais do que já estava e expandiu-se no conforto estofado.
A praça aberta. As avenidas longas. Tudo isso já conhecíamos
e foi ai que lembrei do cantinho deles. Um cantinho qualquer que os apaixonados
inventam para jogar conversa fora e tocar um no outro.O trânsito caótico, o
meio dia, a chegada da noite. Resolvi ver. E vi. Trouxe para Terezinha o motivo
do sumiço, nem vou dizer qual era o seu nome, (poupemos o sofrimento). O
cantinho deles estava preenchido com o violoncelo numa capa e um elástico com
uma fita rosa que não pertencia a Terezinha.
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