terça-feira, 14 de maio de 2013

Sonoridades.


 De Mara Paulina Arruda

Cantei a música Madalena na frente da turma no último ano na escola. Suada após uma partida de vôlei enfrentei os olhares daquele bando. O pó nos tênis e, firme, cantei com as forças de minha alma. Era engraçado. Foi.

Quando voltei para casa sentia uma espécie de sucesso e fracasso. Queria contar a todos mas encontrei Terezinha parada na porta com as mãos na cintura. Estava encafifada. Pareceu-me uma personagem, parte de um quadro de Fernando Botero. Era todo um círculo. As maçãs do rosto avermelhadas e os braços roliços. Gorda de corpo seu coração parecia. Quando ela passou na porta o papagaio repetiu Terezinha Terezina.

Ex-namorada dele ficou encafifada.O namoro havia terminado; aquele romancezinho fazia uma semana que findava. (Juraram amor eterno!) Eu ri dessa promessa. Os amantes são assim.
Ele era. Ele é. E sendo um sujeito talentoso às vezes exagera. Um cidadão que toca violoncelo. Nas vezes que errou foi por pura distração artística. Certamente prestava a atenção no canto de algum pássaro ou no zunido de alguma abelha. Coisas da Arte!
Agora, o fato foi que eles acabaram por conta que esse cabra irritou-a com o seu jeito arrogante de enfrentar as dificuldades da vida. Sentia-se injustiçado. Ora vejam! Eu, uma boca aberta logo vi. E ela, não tardou.

Terezinha dizia que o neném tinha chorado a noite toda.Com o bolo de fubá no forno correu até ali para saber alguma notícia. Não queria se zangar mais do que já estava e expandiu-se no conforto estofado.

A praça aberta. As avenidas longas. Tudo isso já conhecíamos e foi ai que lembrei do cantinho deles. Um cantinho qualquer que os apaixonados inventam para jogar conversa fora e tocar um no outro.O trânsito caótico, o meio dia, a chegada da noite. Resolvi ver. E vi. Trouxe para Terezinha o motivo do sumiço, nem vou dizer qual era o seu nome, (poupemos o sofrimento). O cantinho deles estava preenchido com o violoncelo numa capa e um elástico com uma fita rosa que não pertencia a Terezinha.


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