De Mara Paulina Arruda
Estava no jardim. Noite estrelada. Avistava a constelação de
capricórnio e as três marias. Fazia cálculos de um espaço ao outro das
constelações. Lua nova. Ouvia ao longe o barulho de um parque. Dois meninos e
uma menina vinham em minha direção. Polifonia. Num celular tocava funk. Os
meninos vestiam-se com blusão de moletom que tinha capuz. Capuz sobre a cabeça.
Mãos nos bolsos da calça. A menina segurava o celular e ensaiava alguns passos
de dança sobre a calçada. Cabelos cobrindo quase por inteiro os olhos que
ruminavam a dor de ter perdido o pai, de ter perdido a mãe, de morar na rua,
aonde dava. A troca de si para saciar a fome. Espinhos da sobrevivência.
Chegaram ao portão. Disseram-me que estavam com sede. Fui buscar uma jarra,
três copos e um pacote de bolachas. Um deles disse que fosse a merda com as
bolachas. Você sonha? Sonhar é o quê? Sou empalhador de rato, de cachorro e de
pássaro. Tomam água, olham pra mim e saem a cantarolar a música do grupo
Dazaranha: “Sobe o morro do perigo/Não é mais do que ninguém/Vai subir com
vinte e cinco/ E vai descer com mais de cem/ Que ninguém perceba de onde ele
vem...” As estrelas, uma parte do sonho...
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