De Mara Paulina Arruda.
O vento inventou de ler os jornais. Passa pela janela e vira
as páginas ao seu modo. Gosta muito das variedades e se enaltece com as
crônicas dos poetas. Ouve Resposta ao tempo. Não conta para mim sobre o que
anda fazendo, suas viravoltas, seus problemas com os tufões e as tempestades.
Ele é discreto e faz piadas refinadas. Acompanha o farfalhar das palavras
caindo aos pés do meu amor. Eu imagino que ele, um admirador de John Constable
e de Cecília Meirelles, esteja um pouco estressado com as artimanhas que o tempo
vem fazendo. Não que ele seja uma daquelas pessoas intransigente. Não. O vento
é um espírito de criança. E, no seu jeito luxuoso de ser abre uma barra de
chocolate, passa a mão no gato e abarca o jornal lendo-o aqui, bem aqui,
pertinho de mim, na minha sala, neste apartamento pequeno preparado para ele e
seus piercings de prata.
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