O POEMA NÃO QUER SER COMPREENDIDO: ELE QUER
SER AMAD0!
.O poema é um ser de linguagem. O poeta faz linguagem, fazendo
poema. Está sempre criando e recriando a linguagem. Vale dizer: está sempre
criando o mundo. Para ele, a linguagem é um ser vivo, O poeta é radical (do
latim, radix, radicis = raiz): ele trabalha as raízes da linguagem. Com isso, o
mundo da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos, flores e
frutos. É por isso que um poema parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo.
É por isso que um (bom) poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade.
É por isso que um poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o mais
abstrato dos seres. É por isso que um poema é criação pura — por mais impura
que seja. É como uma pessoa, ou como a vida: por melhor que você a explique, a
explicação nunca pode substituí-la. É como uma pessoa que diz sempre que quer
ser compreendida. Mas o que ela quer mesmo é ser amada.
(Décio Pignatari, 2004)
Nenhum comentário:
Postar um comentário