Rita Medusa
A serpente não se deixou traduzir. Ele o sabia, com seu passo
arrastado, grilhões, correntes, livros místicos e uma metralhadora imaginária
no colo, não para ferir, mas para despertar sentidos inviáveis, explicava.
Aquela manhã ele se deixaria despertar pelos estímulos mais simples e doces, o
cara que se entrosava com personagens dourados com a cor das tempestades nas
veias. Há muito não bebia. Há muito cultivava o barulho dos disparos de todas
as guerras silenciosas. O mundo destilava o veneno incorrupto sob sua cabeça.
Sentia-se batizado, ungido pela consciência de dor e fuga espalhada pelos
trópicos: “mas do que tanto vocês fogem? De que é feita esta velocidade? e se
eu tivesse força seria não para fugir com vocês, mas para perseguir esses
fantasmas com minha metralhadora e cobrir o mundo com minhas flores podres.
Nunca deteria a dor nesta dimensão, porque ela á mãe do delírio e das fantasias
que nos fazem parar de correr para chorar.”
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