domingo, 16 de agosto de 2015

INSTALAÇÃO


Rita Santana

Não me visitem sem olhos nas mãos
Nem toquem meus ossos expostos.
Sem precauções e recatos, não cheguem!
Estou aberta, em excessos e ócios.
Aqui o azul, que se resguarda em pó,
Testemunha a honradez das mentiras.
Nas compotas de vidro, meus erros,
E no cio da porta, minhas iras.
Adiante se verá o meu passado,
Engarrafado em tulipas amarelas.
As dores nuas gritarão em cofres,
E os amores se amarão nas celas.
No subsolo, preso às certezas,
O meu ciúme queima-se em pavio de velas.
Nas abóbadas, lembranças grotescas
De personas que foram querelas.
Nas sacadas, as donas que eu seria,
Não se sabem vertigem d’outrora,
Riem-se mosaicas,
Féretras senhoras,
E se despedem do salão das liras.


(Tratado das Veias/2006/Selo Letras da Bahia)

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