Otto Leopoldo Winck
Para todos que já
pensaram, pensam ou vão pensar em se matar. O suicídio é um ótimo tema
literário, poético, filosófico. Talvez porque seja a atitude mais radical de
uma vida. Um gesto de recusa, sem volta. (É um lugar comum dizer isto, mas vá
lá, a verdade às vezes é um clichê.) E tudo que é radical rende literariamente.
Eu também já pensei em me matar. Faz tempo. Entre os 18 e 20 anos. Não há idade
mais linda, doce, radical e amarga que esta. Sair da infância, tornar-se adulto
não é fácil. De repente, o mundo a sua volta parece hostil, horrível. E
mergulhar no nada parece ser a única saída. Bom, não me matei (como vocês devem
estar percebendo, rs). A vida, depois, sem que eu me desse conta, mostrou-me
faces mais aprazíveis, encantadoras, doces -- e outros adjetivos fofos. Sim,
tive e tenho momentos que dá vontade não digo de me matar mas de dormir por
dias. Mas estar vivo às vezes é glorioso. E viver um minuto desses êxtases que
a vida nos proporciona (como o espetáculo de um ipê amarelo florido contra um
céu de azul-cobalto) já dá forças para encarar os momentos sombrios. Então fica
a dica: se quer se matar, não mate, faça um poema.
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