sábado, 22 de agosto de 2015

Minuto de autoajuda (ou ottoajuda)

Otto Leopoldo Winck


Para todos que já pensaram, pensam ou vão pensar em se matar. O suicídio é um ótimo tema literário, poético, filosófico. Talvez porque seja a atitude mais radical de uma vida. Um gesto de recusa, sem volta. (É um lugar comum dizer isto, mas vá lá, a verdade às vezes é um clichê.) E tudo que é radical rende literariamente. Eu também já pensei em me matar. Faz tempo. Entre os 18 e 20 anos. Não há idade mais linda, doce, radical e amarga que esta. Sair da infância, tornar-se adulto não é fácil. De repente, o mundo a sua volta parece hostil, horrível. E mergulhar no nada parece ser a única saída. Bom, não me matei (como vocês devem estar percebendo, rs). A vida, depois, sem que eu me desse conta, mostrou-me faces mais aprazíveis, encantadoras, doces -- e outros adjetivos fofos. Sim, tive e tenho momentos que dá vontade não digo de me matar mas de dormir por dias. Mas estar vivo às vezes é glorioso. E viver um minuto desses êxtases que a vida nos proporciona (como o espetáculo de um ipê amarelo florido contra um céu de azul-cobalto) já dá forças para encarar os momentos sombrios. Então fica a dica: se quer se matar, não mate, faça um poema.

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