- Por Isabel Furini
Escrever parece um ato de magia.
A criação literária é como a frágua de Vulcano. Escrever
nunca é morno. Escrever é angústia, raiva, incêndio, esperança, fingimento e
desespero. É criar castelos de areia com palavras e temer a ventania.
Escrever é emoção primitiva, instinto de auto-expressão. É
gritar, usando corretamente a linguagem. É, então, grito medido, sofisticado -
chamo isso de fingimento - pois é grito visceral, mas contido. Educado para
expressar-se através de figuras estilísticas, discursos e silêncios, focos
narrativos e personagens.
Escrever é colocar rédea nos valos da emoção. Civilizar a
cólera. Contê-la para não expor em demasia esse eu paradoxal que deseja
expressar-se e ora aparece, ora volta-se sobre si mesmo.
,
Escreve é, às vezes, um ato de coragem e outras, um ato de
estupidez. Mas sempre uma busca de catarse.
O texto é produto do transbordar de um eu - Netuno,
escondido nas águas do inconsciente. E é esse eu desconhecido que brinca com as
palavras, deleita-se com as próprias histórias e incentiva a navegar no
tempestuoso mar da literatura.
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