Davi araújo
a minha língua é da boca para fora
e como tudo o que é rápido vírgula
a língua também se levanta, demora
e quando ela se agiganta é maiúscula
que a mesma língua que se janta devora
pois toda língua é longa, dentro embora vernácula
e quando natural
a língua é bela
e rebelde e oral
e tudo mais que falamos dela:
língua de fora, gringa
língua que aflora, xinga
língua curvilínea, swinga
língua sanguínea, pinga
língua de fogo, vinga
língua de jogo, ginga
taumaturga
a língua que conjuga
é a língua que quis
demiurga
a língua que refuga
é a língua que fiz
dramaturga
a língua que subjuga
é a língua que diz
em sua própria língua
ela, língua, debate
com cada língua a se debater na própria boca
uma língua deitada de prazer
sobre a língua que nos fala de um vate
ela entre ativa e passiva
é língua dentada de me dizer, boca à boca
o amor à língua, lasciva e rouca
falando agressiva, sublingual
pouca a pouca, da língua louca de te morder
tudo o que não é oral
ou babel barroca
a língua à solta
linguagem que ama
não míngua, açoita
língua e idioma
bem aqui, ali igual
linguajar predileto
a língua normal
língua e dialeto
a língua que veneno destila
a língua glândula, palavra, papila
língua gula a língua que engole
língua mole, sem nome
língua que se come
língua de fome
pois grave a língua, língua aguda
trave a língua: linguaruda
língua rude a fazer alarde
a língua ilude, estala e arde
mas não se cala
a língua da dança
é a língua que não se cansa
a língua da criança
é a língua que não se alcança
descubra a língua escarlate
o disparate da língua rubra
aconselha a língua carmim
o latim da língua vermelha
lambem a língua a estalar
e também a estar lá
a fala, o falo, a goela, o grelo
num canto beijam-na
e é supérflua a saliva
que racha líquida a chupar léguas
e se desejam-na iníqua, molhada e muscular
contígua à mandíbula, profícua no paladar
quase mordida de lira a ladrar
é inócuo calar a perpétua cantiga
a linha contínua da arte antiga
tudo, o que é parte da língua
tudo o que é, parte da língua
8 de Julho de 2011 às 02:41
Língua portuguesa" Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
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