Aos que vêm profetizando o apocalipse e a violência que
refugiados possam trazer à sociedade alemã, esta semana nós mais uma vez
recebemos as notícias da violência e do horror que a própria sociedade alemã,
como qualquer outra sociedade ocidental, pode significar para os refugiados que
chegam. O menino bósnio Mohamed, de 4 anos, que fora sequestrado do prédio da
Agência para Registro de Refugiados (LaGeSo) no bairro berlinense de Moabit,
foi encontrado morto no porta-malas de um homem alemão de 32 anos, em uma
pequena cidade do estado de Brandemburgo. Não há indícios de motivação xenófoba
por parte do acusado, que confessou ter abusado sexualmente do menino, e, para
horror geral, confessou também esta manhã (30/10), segundo a imprensa alemã,
ser responsável pelo sequestro do menino Elias, de 6 anos, desaparecido há seis
meses. Elias também está morto.
Mohamed. Elias. Dois meninos com nomes de profetas. Dois
nomes que nos ligam à tradição tríplice abraâmica. Mohamed, profeta do Islã.
Elias, profeta da tradição judaica e do Velho Testamento cristão. Dois meninos
como outros, que encontraram um fim terrível em meio a nossas sociedades
ocidentais doentes, violentas. Não pude deixar de pensar em tudo isso, após ter
lido tantos comentários racistas e islamofóbicos nos últimos tempos, mesmo
aqui, entre leitores da DW Brasil.
Sobre este homem que matou os meninos, estou certo de que
dirão que não se pode generalizar. Não se pode culpar toda uma sociedade pelo
crime de um único louco. De qualquer forma, ainda não foi divulgado seu nome,
seu histórico, e sua… etnia, o que certamente acabará sendo usado de alguma
forma pela imprensa. Como seria justo que um leitor deste texto diga que eu
próprio o estou usando.
Talvez, tudo o que eu queira dizer é que o horror está entre
nós, seja qual for a sociedade. Pessoalmente, não compreendo como leitores
brasileiros reagem a notícias sobre a política externa alemã. Pessoas de um
país como o Brasil, também formado pela unificação de diversas tribos, de
estados que já pertenceram a outros países, assim como regiões que um dia foram
parte da Alemanha hoje estão dentro das fronteiras da Polônia e da República
Tcheca.
Quanto ao pavor pela islamização do Ocidente, já escrevi que
em outros momentos da História esta islamização teve efeitos verdadeiramente
civilizatórios para a cultura europeia, referindo-me especificamente ao
al-Andalus, quando a cultura grega, por exemplo, foi devolvida à Europa nas
mãos de tradutores árabes e judeus. Deles recebemos tanto em ciência, na
matemática, além do seu arcabouço literário que infelizmente ainda não tomamos
como nosso.
Devo dizer que sou tão a favor da islamização do Ocidente
quanto o sou de sua cristianização. Ao ver o que fanáticos cristãos vêm fazendo
no Congresso Nacional, como este nojento projeto de lei, o PL 5069, vejo o que
o fanatismo religioso tem causado à esquerda e à direita, a Leste e Oeste.
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