sábado, 9 de janeiro de 2016

A beleza do silêncio, a sinfonia da tristeza

Deslizo minhas mãos na tez macia do silêncio
A tristeza tem uma face tão sóbria
A melancolia tem uma casa tão fria
Mas os chás, as luzes pálidas, a cerração pelos vitrais,
As folhas mortas nos quintais
Deixam as coisas tão poéticas...
O silêncio e a tristeza
Passeiam sempre juntas
Na lembrança das danças
Nos gemidos dos gozos de outros janeiros
No vou, no voo, no fico
Nas músicas do Chico
No barulho nostálgico do chocalho
No vermelho encerado do assoalho
Na poesia tingida de sépia no velho sulfite sepultado na gaveta
A tristeza tem um charme
Uma chama
Uma nota de jazz
Que encanta
E aponta o porto
Que arruma a luz do quarto
Que faz da vida um novo parto
Para que se dê prosseguimento.
Antropofagicamente
comerás da minha pa/lavra/carne
mastigarás todos nervos e músculos
e matarás tua fome
esse desejo não tem nome
e me consome esta vontade
de ser devorada de verdade
pelos teus dentes de sede
pelos teus dedos de seda
pelos teus poros na rede
sem que até mesmo percebas
se o que tu comes é saudade


 Radyr Gonçalves de Araújo

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