O ato da escrita tem – na minha opinião de editora – algumas
semelhanças com o trabalho das aranhas tecedeiras, aquelas nossas amigas de
oito patas e variado número de olhos que fazem teias.
Com certeza, elas não entendem nada de editoras, mas sua
abordagem para armar teias pode ser muito instrutiva para quem deseja escrever.
Não a toa, elas são símbolo da escrita, inventoras do alfabeto e musas da
criatividade em mitologias de várias culturas. Veja só.
Lição aracnídea número 1
As aranhas fazem suas teias muito rapidamente.
Em meia hora ou quarenta minutos, mesmo aquelas teias
grandes e lindamente geométricas ficam prontas. O recado para escritores é:
trate de escrever o que você pretende rapidamente e chegar ao término de seu
projeto. Escrever livros não é um trabalho para se estender por toda a vida,
mas algo pontual e com um fim em vista.
Lição aracnídea número 2
As aranhas fazem teias apoiadas em algum lugar.
Repare que mesmo as teias mais intrincadas precisam ter
várias linhas que as ancorem a pedras e árvores, de modo que não se rompam com
o impacto do inseto. O equivalente na escrita é a ligação com a realidade.
Mesmo a ficção mais delirante, a poesia mais fantasiosa, precisa ter linhas
firmes e resistentes de conexão com o mundo real, para que o leitor não escape
da leitura por achar o perfil psicológico do personagem impossível ou sua ação
deslocada em relação aos acontecimentos apresentados.
Lição aracnídea número 3
As aranhas fazem teias para capturar insetos.
Esses animais não perdem tempo fazendo teias para outra
coisa que não seja enriquecer sua dieta de proteínas. Na escrita, isso quer
dizer uma preocupação em construir tramas para capturar a imaginação do leitor
e nada mais. Charmes estilísticos, efeitos literários, citações profundas devem
ser todas deixadas de lado se não contribuírem para enredar o leitor na
história.
Lição aracnídea número 4
As aranhas constroem suas teias onde há insetos.
Nossas práticas professoras se empenham em armar suas redes
onde muitas vítimas em potencial voejem, pulem ou passeiem. O que escritores
devem aprender com isso é escrever suas histórias para públicos que existem, ou
seja, grandes grupos de pessoas que possam se interessar por aquele tema e
abordagem.
Lição aracnídea número 5
As aranhas fazem teias invisíveis.
É evidente que o inseto não pode enxergar a teia antes de
bater de encontro a ela, ou simplesmente fará um desvio em seu plano de voo. Do
mesmo modo, se o leitor perceber como a trama foi construída – com excesso de
lógica ou pouco suspense, por exemplo – certamente perderá o interesse e
escapará da leitura.
Lição aracnídea número 6
As aranhas refazem suas teias sempre que necessário.
Se você jogar talco numa teia para enxergá-la, dali a
pouquinho sua proprietária a desmanchará e fará uma nova teia, mais leve e
menos visível. Se você romper um dos fios da teia, a aranha também se apressará
em tecê-lo de novo. Ensina assim ao escritor que, quando sua obra deixa de
funcionar por alguma razão, a abordagem eficiente é desmanchá-la e refazê-la,
sem pena pelo que não cumpre mais sua função.
Lição aracnídea número 7
As aranhas não ficam presas em suas próprias teias.
Apesar de a maioria dos fios das teias serem pegajosos, as
aranhas sabem onde colocar suas oito patas para não ficarem presas em suas
construções. O escritor-aranha aprende com isso a não ficar fascinado com seu
próprio trabalho, mas tratá-lo como uma ferramenta útil para atingir seu
objetivo: capturar a imaginação do leitor.
Lição aracnídea número 8
As aranhas fazem muitas teias.
Uma vez que necessitam de bastante proteína, as aranhas
precisam caçar uma quantidade respeitável de insetos por dia. Sendo assim, não
perdem tempo em fazer nova teia assim que terminam uma refeição. O recado dado
a você, escritor, é fazer muitos projetos, escrever bastante, incorporar a
escrita às suas rotinas diárias para conseguir atingir o objetivo de criar
bastante e ter muitos leitores.
Desejo-lhe boa sorte e um futuro cheio de teias eficientes
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