quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CAIXA DE PAPELÃO


Faz um ano que o encontrei um gatinho num terreno vago, estava enrolado em jornais velhos dentro de uma caixa de papelão. Devo reconhecer que ele não era nada bonito, decerto era o mais feio da ninhada. Tenho afeições especiais pelos rejeitados. Moro sozinho. Ao acolher aquele gatinho abandonado socorri a mim mesmo da solidão. Tenho um filho casado que mora longe, e uma filha passa alguns dos seus finais de semana em casa, ainda assim preservo seu quarto sempre pronto para recebê-la.

Levei o gatinho mesclado de cores indefinidas para casa. Ele chorava muito. Como poderia não chorar, sozinho no mundo, tendo apenas como aconchego jornais velhos! Em casa coloquei-o numa nova caixa de papelão, forrei-a com uma velha blusa de lã. Brincávamos durante o dia, mas a noite o pobrezinho continuava chorando, traumatizado, quem sabe, pelo abandono. Ele reagia bem aos meus carinhos, pensei até em colocá-lo em minha cama, porém achei que não seria uma boa ideia. Demoro a dormir e quando consigo me debato muito, poderia machucá-lo. E assim se passaram dias e ele continuava a chorar igual a um bebê. Como também não durmo, eu ficava ouvindo-o e isso muito me entristecia. Não sabia mais o que fazer, até que numa noite fui ao quarto de minha filha, peguei um ursinho surrado que ela ganhara quando nenê. Coloquei-o na caixa de papelão, o gatinho deu um salto sobre o bichinho de pelúcia, pois reconhecera sua mãe ali. Pensei na hora: quanta ingenuidade! Ele passou a dormir feito um anjo, como dizia minha tia, se é que anjo dorme. Mas eu continuava a ter dificuldades para encontrar o sono, até resolver voltar ao quarto de minha filha e pegar um urso maior, o seu preferido. Aconcheguei-o na minha cama, sentia o cheirinho da infância da minha nenê. Agora tanto eu quanto o gatinho dormimos suavemente com nossos ursinhos. A história não acaba aí. Certo dia minha filha nos fez uma visita, meu gato e eu assistíamos Tom e Jerry na tevê. Ao voltar de seu quarto, reclamou a falta dos seus ursinhos. O gatinho olhou para mim, eu para ele. Ambos balançamos negativamente a cabeça. Tão logo voltou para o quarto, o bichano pulou em cima do seu ursinho, como querendo escondê-lo. Eu joguei o meu rapidamente atrás do sofá.

JDamasio


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