Sempre sofri com um problema chamado rinite, que é a
irritação crônica da mucosa nasal. Na minha juventude, este transtorno
funcionava assim: se estava frio a coriza escorria demais, mas se esquentasse
minhas narinas sangravam. Por isto até hoje vivo com nariz “vazando” e estou
sempre com vários lenços pequenos no bolso para me socorrer. O problema é que,
como sou distraída, sempre acabo derrubando estes meus lenços pelo caminho.
Quando eu era criança, meu nariz escorria bem mais. Porém,
como os lenços de pano eram artigos caros nos anos 80, eu costumava usar rolos
de papel higiênico para enxugar o catarro.
Em medos dos anos 90 fui para a faculdade, na mesma época em
que surgiram as famosas lojas de artigos de R$ 1,99. Ao descobrir, um comércio
destes, logo pensei:
- Finalmente poderei trocar rolos de papel higiênico por
lenços de pano.
Então entrei na loja e comprei várias caixas de lenços
coloridos.
Só que eu notava que a cada lugar onde eu ia, um lenço
desaparecia.
O campus do meu curso era na Reitoria da UFPR e o meu melhor
amigo chamava-se Príncipe, um cachorro comunitário, que morava naquele local e
recebia ração dos alunos.
Naquela época, eu costumava aproveitar o intervalo entre uma
aula e outra, para estudar em alguma sala de aula vazia.
Um certo dia, estava estudando com a porta fechada num andar
diferente de onde era o meu curso. Quando, de repente, alguém abriu e porta e
disse:
- Luciana, você está aí, né?!
Então notei que era uma colega e indaguei:
- Como você me achou?
A amiga respondeu:
- Foi fácil:
- Eu segui a trilha dos lenços coloridos, que você sempre
derruba no chão sem querer. Isto me lembrou o conto-de-fada chamado João e
Maria, onde ele faz uma trilha de miolos de pão. Mas, os passarinhos comem.
Algum tempo depois, após tomar Sol, senti que meu nariz
estava sangrando. Mas, mesmo assim, fui estudar numa sala de aula vazia. Porém,
comecei a sentir tonturas e dores estranhas. De repente Príncipe, o cachorro
comunitário da Reitoria, abriu a porta com vários lencinhos meus em sua boca.
Assim, ele largou os panos no chão e começou a latir. Deste jeito, algumas
pessoas vieram me socorrer. Logo precisei contar a trajetória que o cão fez
para me salvar, sem esquecer os detalhes dos lenços.
Por isto, após este episódio surgiu a lenda da menina dos
lenços coloridos da UFPR.
Luciana do Rocio Mallon
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