Maciços de catingueiras
salpicados nos tempos de chuva de vermelhos
ao sol como pingos de sangue fresco:
e de amarelos vivos
e de roxos untuosamente religiosos.
No verão, chupados pelo sol de todo esse
sangue e de toda essa cor
e quase reduzidos
aos ossos dos cardos
e a um mundo de formas esquisitas
de ascéticos relevos ósseos,
de meios-termos grotescos entre o vegetal e o humano,
de plágios até da anatomia humana
mesmo das partes vergonhosas.
Não haverá paisagem como esta
tão rica de sugestões
nem animada de tantos verdes,
tantos vermelhos, tantos roxos, tantos amarelos,
e tudo isso em tufos, cachos, corolas e folhas.
Como os cachos rubros em que esplende a Ibirapitanga
e arde o mandacaru,
como as formas verdadeiramente heráldicas em
que se ouriçam os quipás
Como as folhas em que se abrem os mamoeiro,
Como as flores em que se antecipam os maracujás,
como as manchas violáceas das coroas-de-frade.
Gilberto Freyre
- Do livro "Poesia reunida", ed. 2000.
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