Pro bróder William Teca:
Os modernos me ensinaram
que o poema, mais que raro, é escasso,
regateado a duras penas
entre a folha em branco e o dicionário.
Para outros, todavia, o poeta é o vidente
que queima o seu demônio interior
enquanto expele vitupérios sobre a plebe.
Há quem, ecumênico, tenha tentado
reunir os dois lados da família.
Deu merda: foram parar na delegacia.
O resultado, por sua vez, é vário.
(Sempre quis usar “todavia” e “por sua vez” em poesia.)
E como o cânone está avariado, não sobraram
muitas regras para avaliar a produção.
Eu, macaco velho, não boto a mão em cumbuca.
Entre o esquadro e o absinto, fico com os dois:
Mondrian na parede e Jimi Hendrix no ouvido.
Na cabeça a lição dos antigos
e modernos – mais o conselho de papai: vá pela sombra,
filho.
Já quebrei minha lira, já comprei outra
(com pedal de wah-wah), entrei na academia
de ginástica, dei um abraço no capeta
lá onde o vento faz a curva
e as palavras ficam turvas...
Mas pra falar a verdade, amigo,
depois da perda da aura,
ficou muito chato ser poeta.
Otto Leopoldo Winck
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