acordei com Emily Dickinson na boca
e a sensação de uma garrafa que espoca
mas logo, ao abrir os olhos, que cena!,
entre os dentes achei um poema
e a cada palavra que dormia de touca
lancei o desafio do dia à luz mais louca!
vestindo os versos à boca pequena
minha língua trivial entrou em cena
não fosse o céu desse azul cegante
eu não teria dado um passo adiante
falei tão manso e a voz tão rouca
que a minha desgraça era pouca
minhas pernas tremiam gelatinas,
como não ousar diante da beleza?
tomando um café sentado à mesa
eu ainda a retinha entre as retinas
que sonho, que amor, que manhã!
por todo o poema o hálito da maçã
somente quando abri as cortinas
o sol me deu toda a certeza
e foi na calor de sua correnteza
que fundi essas rimas repentinas:
a vida é hoje; a morte, o amanhã;
a poesia, seu mais ardoroso afã!
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Antonio Thadeu Wojciechowski
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