Você eu fui matando aos poucos. Um dia depois do outro. Bem devagar. Deixei de perguntar.Deixei de dizer.Deixei de avisar.Dobrei cobertores, empilhei discos, escondi travesseiros e fotografias.Separei o que havia em dupla.Livrei-me do que era único.Usei as costas de bilhetes essenciais.Varri todos os pêlos pra debaixo dos lençóis.Abafei as minhas vontades com mãos postas em desespero.O telefone se esganando por um fio.Fumei páginas e páginas da tua bíblia .Mudei horários.Recolhi documentos.Mandei recados.Voltei aos ovos fritos e às notícias .Comecei a passar reto onde fazia curva. Fui matando você assim.Devagarzinho mesmo. Agora você está completamente assassinada.
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