Jussara Salazar
A memória, esse arquivo que parece que só olhar pra trás,
farejando, desdobrando lençóis velhos, abrindo e fechando portas. Essa
fotografia do Eustáquio Neves reacende os cheiros de minha infância na casa do
Arruda, talvez pela expressão dos olhos, certa melancolia no olhar distante,
tão parecidos com o deles, os meus da banda africana. A cozinha recendia a
colorau e goiaba, a casa mal-assombrada se enchia de velhos ao fim da tarde no
alpendre de minha avó juremeira. Ao mesmo tempo lembro de uma ocasião em
arcoverde em que caminhei pela avenida da cidade, aquela do cine bandeirantes,
de mãos dadas com meu avô da banda do sertão. Chegamos ao seu armazém, onde que
ele vendia secos e molhados e eu fiquei atrás do balcão sentindo o cheiro do
paio, dos cereais e da farinha, que era pesada e conferida com as cuias de
lata. As duas memórias me trazem a esse futuro. Eu não tenho dúvida que essa
foto cheira à goiaba, colorau e paio e tempo.
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