terça-feira, 29 de setembro de 2015

DEVIR



esqueço das várias que fui aos poucos,
o devir vem brutalmente
sem nitidez
rasgando os espectros entorpecentes
das possibilidades
do infinito

sinto meu corpo desvanecer e reintegrar-se
e lembro que
o espaço
é só uma questão de tempo,
um detalhe...
minha mente existe

já imaginei que pudesse brincar com os anjos
e tocar a placidez dos planetas
com um sorriso,
e trazer a luz de um metal precioso
nos gametas,
e declamar um poema incandescente
com um só beijo...
como um tapa na cara
da morte
e nos relógios atômicos que desenham as linhas
de nossa humana
imperfeição

houve um tempo que
acreditei na indecência
do céu e das estrelas...
com tantas constelações
não poderia haver tanta
solidão e violência

desvencilhei-me de amarras
e armadilhas;
escalei um poço escuro arrebentando as vísceras
do tempo
e deixando seus pedaços pelas pedras escorregadias...

não tive medo do desfalecimento
do ser
solucei de saber-me só em trilhas
que pensara que só eu conhecia

reli linhas escritas
displicentemente largadas no lodo
como se valessem todos
os choros,
como cartas indesejáveis sem destinatários
pelas horas infatigáveis que impõem
o seu próprio fim

temi perder meus pensamentos que fugiam,
não os tinha seguros
quando tinha pensamentos demais

enamorei-me da paz do silêncio
que mostra nuances invisíveis
do impossível

enquanto decifrava imagens em mim
indecifráveis,
vasculhava meu coração e sangrava
aquela coragem absurda
de acreditar
e de sentir-se
completamente minha...

sentir é um pequeno momento
de lucidez,
amar é sorver-se e reencontrar-se
no caos de ser várias
ao mesmo tempo;
de sermos nós
no tempo que há

minha mente ainda resiste
ao nada...
meu coração ainda insiste
em fazer morada
no templo do infinito...


Samantha B. S.

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