Otto
Leopoldo Winck
Um céu de chumbo pesa sobre a cidade e sobre o meu coração.
Depois de um desencontro, aderno pelas ruas vazias do centro vazio (é feriado
em Curitiba) e chego a esta lan house, velha companheira de horas solitárias, a
esta hora tomada por jovens coreanos, que não se contentam em acessar os
computadores mas ficam falando entre si, praticamente gritando. Dou uma olhada
nas notícias, na timeline dos amigos, vejo que o Fábio Júnior está mesmo
decrépito, que o fascismo anda de braços dadas com a ignorância... Que faço?
Estou com dois livros na bolsa (Flores do mal e o livro do Benjamin sobre
Baudelaire). Vou procurar um café aberto, tarefa árdua numa cidade provinciana
como Curitiba, e mergulhar no fascínio de dois caras que foram até o fundo da
melancolia... Os coreanos continuam gritando numa língua ininteligível. A noite
caiu. Migrantes morrem nas praias do Mediterrâneo. E "a angústia, atroz,
despótica, enterra-me no crânio sua bandeira preta"...
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