Tirou a atadura para olhar o corte.Viu os pontos pela primeira vez.Tinha de resolver sozinho o jeito de continuar ferido.Não adiantava vir o enfermeiro ou quem quer que fosse.Todo o resto dependia só dele. Precisava forçar um limite, urgia agora saber qual.Tentou sentar na cama, nada lhe doía.Conseguiu..Pendurou as pernas,balançou-as feito criança satisfeita.Tateou os lábios da cicatriz.Anoitecia.Era a sua única oportunidade. O momento em que todos se afastavam , deixando o quarto ma penumbra e uma ânsia de desbravar certos confins que seus passos agora confirmavam.Caminhou indiferente à dor.Surpreendeu a chama ao pé da imagem. Foi ali e a apagou. Ouviu um gemido. Mais outro.Acariciou o talho, aí avançou - bolinou o escuro. E gozou.
João Gilberto Noll. in Relâmpagos.FSP 10/09/2001
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