Meu tio-avô (Antônio) era nômade (hoje diriam sem-terra).
Vivia na rua, por opção (talvez, não sei). Apego? Só com os filhos e com as
pedras. Gostava de geologia, mas nem sabia se tratar de uma disciplina
acadêmica. Vivia com roupas vellhas e rasgadas. Bolsos sempre furados. Mas me
parecia um senhor inglês, contando histórias muito bem elaboradas. Pernas
cruzadas, elegantemente instalado ao lado do fogão de lenha de minha bisavó
benzedeira. Aprendi com ele a ser rococó sem nunca ter pisado em um palácio.
Gosto da nobreza interna e dos rituais rebuscados. É genética. Sem moedas, mas
com muitas palavras cerimoniais. Meu tinteiro está atolado com o sangue azul
petróleo de meus pais.
Andréia Carvalho Gavita
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