Bárbara Lia
Amanhã tudo fica estranho. Com o poeta aprendi que o fio da
humanidade traz esta ancestralidade de reconhecimento. Foi poético saber que um
dos poetas que traçou a poesia límpida e profunda e nasceu em Minas, onde está
plantada a raiz do meu nome de Bárbara Bela, nasceu no mesmo dia mês e ano que
eu. Foi este meu vínculo com Donizete Galvão. Isto levou a um diálogo
natalício, que se ateve ali. Nunca trocamos livros e nem partilhamos as
experiências poéticas. Ficava aquele acontecimento (a coincidência da nossa
chegada ao mesmo tempo neste mundo) a enlear uma simpatia mútua. É muito
estranho não poder dizer parabéns amanhã. A vida por aqui é tão efêmera e
esquecemos disto. Silenciamos esta transitoriedade. Sigo no meu 24 de agosto de
suicídio de Vargas, compartilhando com poetas consagrados como Leminski e Jorge
Luis Borges, a data natalícia. E este carinho maior pelo Donizete Galvão, esta
mágoa entranhada. Cedo demais para calar a voz de um poeta. Os poetas morrem
cedo, ainda tenho um pouco do oxigênio vital em mim, talvez por ter começado a
escrever bem tarde... Vou ficando por aqui, com uma cidade que tem um ícone,
com meu desejo de nunca esquecer, que ser Poeta é antes de tudo curvar-se à
Palavra, dar a ela um lugar, ser seu corpo sua casa seu ar... E queimar em
beleza com tanta fúria, que a luz permaneça no depois, e assim tem sido para os
poetas em carne viva...
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