domingo, 17 de agosto de 2014

duas pequenas histórias

duas pequenas histórias (a primeira inspirada em post recente da Aline Roman e também já um pouquinho modificada por sugestão dela, as outra duas eu já tinha publicado aqui) que aconteceram na livraria Saraiva e uma na rua, quando eu tinha acabado de sair do shopping em que fica a livraria. talvez sejam o começo de uma série.
1
um dia eu tava estudando no café da saraiva, ali no cristal... quando fui pagar a conta, não tava comigo a minha carteira. ou perdi ou esqueci em casa, pensei. liguei então pra casa e tava lá a carteira, tinha mesmo esquecido. enquanto explicava a situação pra moça que trabalha no café (e sei que ela não teria problema em me deixar pendurar pra pagar depois), um senhor que ali estava levantou e me deu duas notas de 50 reais: pegue, assim você paga aqui e ainda pode seguir a noite. que é isso, não posso aceitar, eu disse, a gente nem se conhece... e ele: e daí que a gente não se conhece, estamos nos conhecendo agora, vá, não se acanhe, você precisa do dinheiro. peguei os 100 reais, paguei a conta e ainda "segui a noite" como recomendado por ele. dois dias depois, voltei ao café e deixei o dinheiro e um bilhete com a moça do café pra que desse pro senhor quando ele retornasse. nunca mais o vi, mas a moça do café disse que entregou a ele o pagamento da dívida e que ele sorriu dizendo: não precisava.
2
domingo, final de tarde. eu tava vendo uns livros na Saraiva. dois senhores lado a lado num daqueles sofazinhos. 60 e poucos anos a dupla. um, calça social e camisa, mais pro gordo, loiro, falava em tom baixo. o outro, calça de jogging bem surrada, magrão, barba por fazer, óculos de grau estilo aviador. o gordo mostrava pra ele um livro de culinária, com voz de proctologista apaixonado: ó, cada bolo de dar água na boca. e o magro, mais histriônico, só concordando sempre: é, é, uhum, de dar água na boca, uhum. mas eles não pareciam um casal não. o gordo me achou bonito. e em seu tom falso discreto: que rapaz bem apessoado, não... largo... cabelão. sim ele me secava da cabeça aos pés e, pro amigo: ó, camisa aberta no peito, sandália de dedo. e então o magro: lindo mesmo, parece um búfalo.
3
tô saindo do cinema agora há pouco
(aliás, recomendo a comédia Amante à
domicílio do John Turturro, com ele
e com o sempre brilhante Woody Allen) e, como de costume
entro num papo com C o guardador de carros da
Alameda Presidente Taunay
lá pelas tantas ele me sai com esta: quer saber, vou
pedir pra Santo Antônio escrever bem certinho assim
com as palavras no capricho numa folha de papel
querido padroeiro faz o favor aí de conceder a graça
pro seu amigão de eu ter uma mulher bonita
carinhosa que goste de foder gostoso e não fique
perdida nesse mundo cheio de confusão maldade
e a coisarada toda injustiça e tals e que ela cuide
de mim e ó pode deixar que eu cuido direitinho
dela minha mulherzinha 25 anos saca sem
problema sem problema sem fofoca
e eu: será que tudo bem pro Santo Antônio atender
o pedido com este "que foda gostoso e tal"?
e C: claro ué
ou você acha que o Santo também num gosta?
e ele ia ficar unindo os casais pra que então?

Luiz Felipe Leprevost



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