Bárbara Lia ·
Nasci sem velcro.
Não grudo em nada e em ninguém. Quando me apaixono, detono tudo, pra seguir só.
Nasci e andei sem companhia desde os... Três anos? Minha primeira fotografia
assinala uma vida inteira: uma menina descalça em uma rua, sem ninguém... Amo
estar só. Sou só. Acho que sou um corpo estranho em todo lugar. Estrangeira,
sempre. Nasci sem velcro. Ainda tenho três anos e estou descalça no mundo, e
isto parece triste, mas, tem um universo inteiro aquém da testa da menina... E
quem tem um mundo pode ser que não goste deste além da pele, sei lá... Só acho
que felicidade e amor e vida e família e esperança, estas coisas pelas quais
todos lutam, pra mim tem um rosto que difere do que pintam... Por conta disto
descartam-me. Alguns familiares, velhos “amigos”, poetas, os amores de antes e
até o que ainda queima sideral nas veias, aquele homem da semana da neve... Sou
eu e meu silêncio, e dentro eu recordo que nos poucos momentos em que fui um
deles - e tinha companhia, quando olhava nos olhos e quando fazia amor... Eu
era terna e suave. Romã de núpcias, nuvem de Picasso, céu baunilha, perfume lavanda
de enxoval de bebê... Eu sempre fui assim, delicada, simples... Quem me vê tão
só faz este juízo de aura malévola. Pessoa horrível. Não é nada disto. É que
nasci sem aderência, acho que tenho asas, acho que ainda tenho três anos, estou
descalça no mundo e sou minha própria casa.
...BL sem velcro,
desconectada neste mundo mais que atado...
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