ninguém dá o mínimo de crédito para bailarina, porque ela
ainda está dançando com intencionalidade como fosse um animal doméstico. um
animal doméstico feroz, é verdade, mas ainda assim. acaba que vai aprisionada
nesse esgoto. tanto esforço, não houve pensamento de humanos que dançassem em
comunhão com seu ocaso íntimo, toda a eventualidade fora premeditada. os
pensamentos que a assistiram não puderam ser domados, libertados nem nada. as
coisas permaneceram exatamente iguais no já diferente. o tempo não passou,
apenas os segundos. como se a beleza da ação houvesse funcionado instrumentos
de tortura para platéia a que então se dirigia, agora emancipada da insônia da
bailarina em suas cadeiras, cadeiras, aliás, das quais não saíram nunca. pensar
que as cadeiras são o colo de Pina Bausch faz a bailarina prosseguir.
Luiz Felipe Leprevost
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