o que eu diria a atriz, assim de última hora
em poucas e sôfregas palavras
você é indescritível. poucas vezes vi algo igual. preciso do
seu olho, ele muda de cor conforme diz o texto. preciso o que está por trás
dele. a platéia quer conhecer o estômago, o fígado, o cruel e subjetivo que
vivemos a esconder. o cérebro faz parte das entranhas. é o momento de agir o
seu ser que jamais antes. cada ação estréia o inédito. nada aconteceu antes no
mundo. nem uma máquina de ressonância saberia revelar o que você está
revelando. maravilhas conforme a peça avança. dê as mãos dos olhos à platéia. e
os braços da voz. exponha cada detalhe do processo a cada vez que o diafragma,
os alvéolos. dê vazão ao debaixo dos teus pés, os anjos que ficam por lá
batendo pra que o palco não seja precipício. filtro, o seu corpo. corrente
sanguínea, o que o inferno reconhecido na beleza. você se alimentou bem? não
tenha dó de nada de si mesma. também é escuridão na poltrona marcada. mastigue
a platéia que mastiga a cena, ossos não passem de papinha de neném. sem
escafandro ou bóia salva-vidas vá no sangue da platéia emancipada. cada um mãe
desse momento. memórias distintas e nos mesmos antepassados. há um pacto
irretocável, indestrutível, absurdoplausível, chamados do selvagem. a peça
depende mais que. o teatro está flutuando de tanto que a terra se abriu. anjos se
proliferam. você tem o ser nas costas. proteja os calcanhares. a fala é fêmea.
Luiz Felipe Leprevost
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