Na fila do mercado do sábado, a minha frente uma família,
casal de meia idade e um menino de uns dez anos. O carrinho de compras
abarrotado, tipo compra do mês, mercadoria básica. Não pude deixar de observar,
afinal estavam logo a minha frente, contei os pacotes de bolachas recheadas,
havia três, duas de bolacha Maria, duas latas de leite condensado, uma de creme
de leite uma lata de pêssego em calda, uma bandeja de iogurte, o da promoção!
Havia também um bom pedaço de carne, peça inteira de posta vermelha. Não sou
bisbilhoteiro, mas o tempo passa depressa e a fila anda mais rápida quando
calculamos as compras dos outros. Enfim, chegou à vez do casal, depois de
passarem o pedido do carrinho e o chocolate da mão do menino, tentaram passar o
cartão, uma, duas, três vezes, trocaram de cartão, uma, duas.. Trocaram de
maquina, não adiantou o problema não estava na senha e nem com o sistema de
informática, mas com o saldo bancário. Um depósito que não caiu, uma conta
cobrada antes do prazo, sabe lá. A situação era de fato constrangedora, percebi
os olhos olhar de reprovação da caixa. Senti como se fossem voltados para mim,
empatia com os personagens fictícios ou reais, coisa de escritor. Lembrei de
Dostoievski: ”escrever é sofrer”, realmente ao exercitarmos a empatia, vivemos
a vida, as dores e alegrias dos outros. Sofri com a situação, fiquei olhando o
casal saindo com andar sem jeito, a criança sem o chocolate na mão, o que
fazer? Pera aí Senhor! Deixe que eu pago as compras. Não tenho recursos,
poderia estourar meu cartão também, ou: “Menino deixa que eu pague seu
chocolate”, poderia aumentar ainda mais a humilhação para o casal, seja como
for fiquei sem ação, minha vista seguiu aquela família até a porta do mercado,
para depois pensar qual seria o almoço de domingo daquela família. E a
sobremesa?
JDamasio
Rascunho da noite de domingo
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