terça-feira, 19 de agosto de 2014

ENQUANTO LIDO



quer coisa mais estranha
que um poema
enquanto nasce? enquanto
se contorce
desprovido de sentido?
enquanto pura pele
muito lisa e sem
memória? enquanto
ao mesmo tempo
excesso e falta?
enquanto vísceras
à mostra?
enquanto ar
ritmia?
enquanto riso
besta? enquanto
rua de mão dupla?
enquanto
beco sem saída?
enquanto rosto
informe?
enquanto afasia?
enquanto líquidos
no ventre?
enquanto visão
de vultos? enquanto
respiração
difícil? enquanto plena
hesitação?
enquanto impulso de
desistência? enquanto
vermelho sangue
aos jorros? enquanto placenta?
enquanto rigor
mortis? enquanto dia
claro?
enquanto noite adentro?
enquanto sem
futuro?
quer coisa
mais estranha
que um
poema enquanto

lido?

Ricardo Aleixo

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