Sábado à noite. Uma gripe, uma tarde de oficina e uma
mudança interminável. No centro, entro numa lan house (acho que sou o último
moicano a frequentar lan houses), dou um rolê nas notícias, vejo que o mundo
não mudou e que a ignorância e a intolerância grassam por aí. Penso no Álvares
de Azevedo, nosso Byron tropical, sobre quem dei aula ontem ao ar livre e deve
ser o culpado por esta minha gripe. O cara morreu com vinte anos e deixou uma
puta obra. Já tenho mais que o dobro da idade dele e cadê minha obra? Ah, não
deu pra ser Rimbaud, como eu sonhei aos 17, e agora nem Baudelaire... Sim,
perdi minhas melhores horas com literatura e em discussões inúteis... A lua
está cheia, eu vi, minha cabeça estoura de dor, meus pés estão exaustos dentro
do tênis que calcei de manhã e ainda não tirei. Me arrastarei até o ponto para
ir ao meu novo apartamento, onde não caberão nem metade dos livros que acumulei
nos últimos vinte anos. Penso que tenho acumulado coisas inúteis ao longo da
minha vida: livros, lembranças, versos... Uns acumulam bens, capital e recomendações.
Eu acumulo trastes. E trastes tristes. O maior deles é esta saudade inominável.
Ah, meu Deus, como gostaria de arrancar a lua do céu e colocá-la no alto do teu
quarto para que não duvides nunca que há um poeta que sonha escrever a última
epopeia do mundo na alvura frágil de teu corpo insone...
Otto Leopoldo Winck
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