A vida literária conspira contra a literatura. É lançamento,
é aperto de mão, mesa-redonda, feira, palestra, sarau, aniversário do padrinho,
beija-mão do crítico, o escambau... Enfim, são tantas coisas (e que se estendem
pelas redes sociais) que não sobra tempo para a única atividade verdadeiramente
relevante para o escritor: escrever. "Para ser grande, sê inteiro",
escreveu o grande Pessoa. Com efeito, não dá para ser um grande escritor e se
dividir em tantas atividades. Escrever deve ser um gesto total contra o mundo.
De revolta e de recusa. Escrever contra tudo e contra todos deve ser o lema do
escritor. Lema não. Prática. Prática não. Religião. Uma religião sem fé e sem
deuses, sem esperanças de salvação. Mas com todos os seus ritos e ofícios.
Balzac não escrevia de burel?. Por isso que temos tão poucos grandes
escritores. Ninguém está a fim de renunciar. Sem renúncia não há literatura,
pelo menos não a grande literatura.
Otto Leopoldo Winck
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