Como já contei, em Piraí do Sul eu morava com os meus pais e
irmãos na Rua XV de Novembro, sendo vizinho do Seu Alípio Domingues e do Vô
Inácio, quando criança. Outra referência para facilitar sua visualização é que
era perto da antiga Prefeitura Municipal.
A nossa rua era bem movimentada para os padrões da época,
principalmente pelo tráfego de caminhões que transportavam carga para o Estado
de São Paulo. Três dos meus tios transportavam porcos vivos em caminhões, o que
exigia cuidados especiais e uma grande agilidade para que a carga pudesse
chegar ao destino sem que os animais ficassem muito estressados ou até
machucados. Mas o que eu quero contar não é sobre a movimentação de cargas, mas
sim a respeito da concentração de gente em alguns eventos, como por exemplo:
quando as famílias que moravam no interior de Pirai, vinham para a cidade para
batizar seus filhos e aproveitavam também para fazer a Certidão de Nascimento.
Isto acontecia sempre bem perto de casa e era muito interessante quando paravam
várias carroças ainda enfeitadas, depois da missa de batizado, para cumprir seu
dever cívico com o documento que tornava cada ser humano vivente em um cidadão
real perante a lei e para efeitos estatísticos.
Certo dia,em que o movimento estava bem mais
intenso,observei que muitos piraienses queriam se aproximar e tocar/conversar
com uma pessoa, a qual eu não tinha a menor ideia quem era. E até meu pai,
pessoa muito discreta e reservada, saiu da frente de nossa casa e foi
cumprimentar aquele homem. Curioso como eu era, resolvi chegar mais perto para
perguntar quem era aquele figurão, que parecia muito importante e que conhecia
todo mundo. Era muito carismático, sorridente e paciencioso, pois cumprimentava
e falava com todos os que dele se aproximavam. Fiquei pensando em várias
possibilidades: seria um milagreiro, um ricaço, um grande fazendeiro, além de
outras das quais não me lembro mais, pois era muito criança ainda. Mas cheguei
bem perto dele, na hora que meu pai estava o cumprimentando. E meu pai me
apresentou para ele: “Este é o Governador do Estado do Paraná, o homem mais importante
que temos em todo o estado, o Senhor Moysés Lupion”. O que me surpreendeu mais
ainda, além de estar diante de uma celebridade, foi que ele me estendeu a mão
“disse o nome dele e perguntou qual era o meu”. Fiquei muito orgulhoso com seu
interesse em me conhecer e falei. “Meu nome é Lauro Rubens Duarte Volaco”.
Parecia que meu coração iria pular do meu peito, sair pela boca e cair naquela
rua empoeirada. Aquilo me impressionou tanto, que eu contei esta história
dezenas de vezes, algumas até repetindo para os mesmos amigos e fazendo inveja,
perguntando se alguma vez eles estiveram pelo menos perto de um governador!
Falava ainda que ele quis saber quem era eu. Parecia que se ele pudesse, também
gostaria de saber quais eram os meus projetos de vida e me orientar para que eu
pudesse ser um dia, tão importante quanto ele.
Dia histórico para um menino que ainda usava calça curta!
(Lauro Volaco)
COLETÂNEA DE CAUSOS, CRÔNICAS E POEMAS "PIRAÍ DE ANTIGAMENTE"
Nenhum comentário:
Postar um comentário