sábado, 19 de março de 2016

Ser coxinha é uma escolha

Leandro Borgonha

Ser coxinha é uma escolha.
Eu sou classe média. Minha bunda foi tratada à talquinho. Estudei em escola particular e cara. Frequentei clubes burgueses na infância. Cresci lendo a Veja e assistindo a Globo.
Tenho casa, carro, a comida que quiser e roupa lavada, que hoje lavo eu mesmo por opção e não por condição.
Tenho uma lista imensa de privilégios.
Posso comprar livros, ir a cinemas, viajar.
Quando chove só fecho a janela, não tenho goteiras no teto e nem corro risco de inundação ou soterramento.
Da minha torneira sai água sempre.
Minha filha tem um iphone e estuda em escola particular.
É justamente por estar nesse lugar privilegiado que sempre me senti na obrigação de estudar e compreender a desigualdade social.
Educo minha filha para que entenda que nossa sorte nos obriga a sermos conscientes do sofrimento que nosso privilégio acarreta. E que por isso precisamos reverter nossa oportunidade de estudo em benefício de quem foi e é submetido a condições sub-humanas.
Nunca me permiti perder a indignação e revolta diante da desigualdade social. Talvez por isso tenha me tornado artista.
Ser coxinha, fascista, egoísta, são escolhas que fazemos todos os dias quando deixamos de defender quem está sendo oprimido, de todas as formas.
Tenho muito que melhorar até desconstruir toda a elitização em que fui criado e ainda vivo.
Mas não me permito ser feliz e ficar passivo enquanto não houver democracia de direitos e igualdade de condições.
Quem tem privilégios devia encabeçar a luta por aqueles que não tem, afinal a barriga está alimentada e a cabeça deveria estar esclarecida.
Ser coxinha é uma escolha. E eu decido, por princípios, comer mortadela.


(Adaptado por/para mim, a partir do texto original de Dani Nefussi)

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