O homem que nunca existiu mora num sobrado
do início do século 19,
com sacadas e uma escadaria em curva,
e, no oratório, costuma rezar o rosário de buirás.
Enquanto, na manhã de chuva, observa pelas venezianas
os acantos no talude ao longo das arcadas,
o homem que nunca existiu conclui que um artista maduro
é aquele que sabe da futilidade de suas conquistas
e de sua busca.
O homem que nunca existiu cansa de observar os acantos,
antes prefere o consolo de dois pensamentos:
1. O solo com muito esterco produz uma colheita abundante,
pois a água que é demasiada clara não tem peixe.
2. A prosa é a poesia que a poesia não é:
em tudo uma vaga esperança vive,
mas não mais do que vivem as inscrições nos túmulos.
Texto de Fernando José Karl
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