Há uma ilusão acerca da palavra amigo. Não temos amigos no mesmo sentido em que falamos dos livros da nossa biblioteca. Não os acessamos quando queremos. Às vezes, forçamos uma convivência com um outro que nos diminui. Que sutilmente nos bota um espelho distorcido na frente para ficar ali (ele, o outro - ou mesmo você), resguardado atrás da impressão horripilante acerca do que achamos da identidade que nos determina. E esse resguardo é a posição mais confortável e triste da nossa esburacada humanidade. Mas em outras vezes, insistimos naquilo que permanece vazio dentro da lacuna que nos separa e criamos uma espécie de máquina onde duas cabeças desenham sem querer um mundo novo. Ai não há mais espelho: é um cara à cara sem imagem, um beijo sem face, abraço de retinas - a narrativa, TODA narrativa, sem nenhum autor.
Alexandre França
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