( Lauro Volaco)
A água sempre exerceu uma forte atração em mim. Assim, rios,
riachos, mar, lagoas, piscina e outras tantas formas que a contém me fascinam.
Acordar e ver uma névoa fina sobre a água me transporta a situações de muita
paz e harmonia. Mas o que eu gosto mesmo é do contato físico com ela, que me
envolva, me embrulhe, me toque, me acaricie. Pescar bem cedinho, num dia mais
frio e com a água bem quente fazendo o contraste e formando aquele vapor, faz
com que a vontade de pescar vire secundária, para dar lugar ao prazer daquela
imagem.
Mas vamos falar de um filete de água que corre nos fundos de
nossa chácara, com água absolutamente pura que nasce bem próxima de onde foi
construído o nosso tanque, menos de trezentos metros do “olho de água”. No
início da minha infância, nem íamos muito até este filete de água, pois não
tinha a menor graça, não nos proporcionava nenhum tipo de entretenimento. Por
outro lado, tinha o tanque do Fanchin, que era um lugar onde nós éramos
atraídos mais que um imã num pedaço de ferro. Meu pai e meu tio Rubem,
percebendo que ali havia um potencial de aproveitamento e divertimento,
resolveram construir um pequeno tanque. Melhor dizendo: um pequeníssimo tanque.
Não seria tão bom quanto ter uma piscina, mas seria muito melhor que nada. Além
do mais, nos manteria em nosso território. O lugar escolhido foi estratégico,
pois precisou fazer pouca remoção de terra praticamente sem descaracterizar o
terreno, todo cheio de árvores, samambaias e arbustos. Além do mais, quando uma
construção como estas é feita com pá, enxada, carrinho de mão e baldes para
transportar os materiais removidos, a canseira e o trabalho são enormes. Outro
fator levado em consideração é que no local escolhido não havia rochas, o que
seria um complicador para a construção. Uma coisa que foi muito sábia, foi
termos participado de todo o trabalho, pois ele passou a ter um valor
inestimável para nós. Ficamos sabendo muito bem o que é construir alguma coisa,
mesmo que pequena. Depois, cuidávamos daquele tanque, com o carinho de um pai
com seu filho. Foi projetado para que a água pudesse sempre estar limpa, mesmo
durante o uso enquanto nadávamos. Para isto foi feito uma barragem de
contenção, que tinha na parte bem inferior e no meio do tanque, um furo com um
tampão de madeira, para que ele pudesse ser esgotado e feito uma limpeza fina
de folhas, galhos e mesmo barro. Na parte superior desta pequena barragem,
ficava o vertedouro, para que a água não transbordasse de forma desuniforme e
provocasse erosão. O fundo foi revestido com lajotas de pedra e também uma das
laterais do tanque. A outra parede foi mantida naturalmente de terra, pois ela
era muito compacta e foi deixada sem revestir visando reduzir custos (“fazer
mais com menos”. De tempos em tempos, drenávamos toda a água e fazíamos uma
limpeza geral, deixando aquele nosso tanque limpíssimo, para receber o novo
volume de água, que não tinha custo algum. O que tinha de ruim é que demorava
vários dias até que enchesse novamente, pois o volume de água era muito
pequeno. A água era muito gelada, pois entre a nascente e o tanque, não recebia
calor do sol, de tanta vegetação que recobria todo este trecho do filete de
água.
Aquele pequenino tanque era para nós, uma fonte inesgotável
de prazer, pois podíamos reunir nossos amigos para grandes brincadeiras. Era
tão pequeno, que para que pudéssemos saltar do barranco, precisava que ninguém
estivesse na linha de salto, para evitar embutir um pescoço no ombro da vítima.
Pequeno espaço, grandes divertimentos para uma criançada que podia brincar na
água sabendo de sua qualidade e com mínimo risco.
Grandes e boas lembranças que meu pai e meu tio nos
proporcionaram de forma tão simples.
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