Este asco de viver
entre essa gente
medíocre e desprezível
a chafurdar nos excrementos
de um pensamento sofrível
me desperta abruptamente.
E o grito que sufoco
enche os pulmões de desespero.
Cadê a armadura para vestir
de terror essa nudez miserável?
Cadê a arma com cujos golpes
gravarei na face do tempo
este ódio inaudito?
Essa raiva que você come
sem modos, nesse banquete
de sombras e medos, não sacia
apenas incita a imensa fome.
Na primeira lambida é doce
a vida, na segunda escapa
o sabor à língua, e a mordida
principia o desmanchar precoce
da alquímica receita
de ilusão
na sua boca, e você aperta
entre dentes o ar, a esmagar
qualquer indício de satisfação.
Iriene Borges
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