sábado, 20 de dezembro de 2014

1
abro uma cerveja tomo penso na vida. o animal em cativeiro amansa come dorme sofre ama perde a esperança desespera prepara o dia da vingança. este é meu cárcere ou meu escudo? estou em guerra e vencendo pela via do afeto. basta-nos uns passos para sairmos de nossa casa e nem tantos para sairmos da vida
2
a carne indaga o tempo: angu de angústias. nos grandes palácios de vácuos o rebanho está ouvindo com atenção. é como cortar a água do mar para tentar definir territórios é como tomar pastilhas de plenitude. existimos? a resposta pode que seja: prótese. e gagueja-se que: tudo já foi gaguejado. insegurança... eis. nem mesmo a tristeza é suficiente – joelheiras para os penitentes. nem mesmo a doença é o bastante – o trágico quer menos segundos. só o vivo pode fazer seu luto. as formas vivas atrapalham o infinito
3
o sol a pino dos saberes se querem claros mas outra vez o entardecer nublado. a verdade não está aqui. baba imaginária reveste o prego da realidade. onde foi que você sentiu tantas palavras para chegar ao seu delírio? e a extração da pedra da loucura. meu olhar é tarde. tudo o que lembro, invento. as formas vivas garantem o infinito. mando a mensagem ela bate no outro e volta pra mim mensagem que eu mesmo mando pra mim. ah as composições cúmplices ah chaga narcísica. embaixo a vida é mais barata. deveria descrevê-la? a verdade não está aqui
4
um chapéu? não, um quati na cabeça
5
um homem concerta (com C porque no sentido musical) portas. o ranger o encaixe seu toque faz mágica. às vezes precisa martelar com força
6
ela coloca três seis sete treze vinte beijos dentro de mim coloco cinco sete quarenta e três beijos dentro dela – não se traduz o que diz a gosma. canto e aí a minha vida inteira aos pés de seu ouvido. o amor é uma praia que igualmente tem o nascer do sol no mar e o pôr do sol no mesmo lado no mar, conforme passam a demonstrar as ondas
7
escrevo – um contínuo dizer que não se diz. escrevo e ativo o presente ativo o presente escrevo e o presente já está ausente. uso não explico o uso – contínuo dizer que não se diz. eu sou tudo menos um contador de histórias – e assim conto uma história
8
estou sentado nos conceitos chutam o pé da cadeira. ah pego as perguntas todas faço um porre com elas e me divirto. abro mais uma e mais e mais uma cerveja tomo penso na vida e vou dormir

luíz Felipe Leprevost


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