segunda-feira, 22 de dezembro de 2014


Mas o segredo que Miguel descobriu nem para o tatuzinho ele quis contar. Ficou deitado, bem quietinho, percorrendo os dedos por dentro da caixa, e sentindo as lágrimas rolando nas têmporas feito estrelas cadentes. Não era só tristeza o que estava sentindo. Eram os sonhos de menino que nasciam de novo nos olhos e iam adormecer nos ouvidos. Como se os sonhos saíssem e voltassem, fizessem a volta no rosto, mas não conseguissem escapar de si mesmo, ou do seu velho pedaço de papelão. E talvez por isso ele nunca via a Lucinha do outro lado da cerca.

Rita Apoena 

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