Descalço
as sandálias. Prostro-me.
Murmuro: Adonai, El-Shaday, Oxalá, eu já vou.
Insisto: Braman, Eu-Tu, Meu Amado.
Continuo, em êxtase: Paradigma, Origami, Escabelo. Exulto,
estulto. Choro. Bebo minhas lágrimas.
Visto-me de saco, cubro-me
de cinzas.
Não posso.
Quem sou? Menos
que nada. E este fascínio me devora.
Não me decifro. Sou uma cifra? Um pano de chão? Pouco
mais que louco.
Ousei dizer-te, pronunciando-me, mudo. O sol que vejo
sou eu. A lua a meus pés, arrasto
as estrelas. Todas as eras, as margaridas esmigalhadas, as
ilusões adquiridas
são minhas.
Descalço
as sandálias. Bebo, como.
Gargalho, vomito, danço.
Danço, danço, danço...
Sou todas as coisas: o mito, o nada, o tudo.
Imobilizo-me na areia,
vergado, prostrado,
em cruz.
Nu como vim ao mundo.
Nu como partirei um dia,
locupletado de memórias.
Otto Leopoldo Winck
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