- Padre, preciso me confessar!
- Claro minha filha, venha comigo.
- Cometi diversos crimes contra a humanidade e acho que
preciso ser julgada por isso.
- Entendo. Mas que tipo de crime?
- Vou começar pelo principal e que me deixa mais enojada.
Matei alguém.
- Sim! E quando foi isso?
- Há muitos anos atrás, quando eu ainda era jovem.
- E como fez isso?
- Bem, comecei aos poucos. Fui matando devagar. Fiz sofrer
primeiro.
- E esta pessoa havia feito algo para você?
- Não! Este é o problema. Ela era livre, tinha sonhos e
ambições. Mas tive inveja da maneira como ela enxergava a vida e dos planos que
fazia.
Comecei a achar que ela precisava ser mais realista e deixar
de sonhar. Em determinado momento eu disse coisas horríveis para ela.
- E ela?
- Ela tentou se defender, dizendo que o mundo precisava de
mais pessoas como ela e que eu não tinha o direito de interferir.
Disse que gostaria de viver intensamente e que eu precisava
de ajuda por ser tão amarga.
- Foi então que a matou?
- Não! Tentei, mas não consegui. Mas com o passar do tempo,
conheci muitas pessoas como eu.
Pessoas que não compreendiam o que ela dizia e pensava e
acabaram me ajudando a eliminá-la por completo.
- Então você não fez isso sozinha.
- Na verdade fiz. Eu poderia ter sido contra as opiniões das
pessoas. Poderia ter entendido o lado dela. Não fiz por que não quis.
- E por que não o fez?
- Ora, se eu fosse contra... eu acabaria como ela.
- Mas você ainda não me disse como fez.
- Matei todos os sonhos dela, todos os planos. Destruí os
ideais, as amizades. Ela entrou em depressão profunda.
Não tinha mais vontade de viver. Até que certo dia ela
desapareceu. Ninguém mais ouviu falar dela.
Me arrependo pois agora mais velha, percebo que ela estava
certa. Eu deveria ser como ela. Queria ter a coragem dela.
- Você disse que ela desapareceu. Como sabe que ela morreu
de fato?
- Porque ela era eu.
Lasombra Ribeiro
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