Walking Around
Sucede que me canso de ser hombre.
Sucede que entro en las sastrerías y en los cines
marchito, impenetrable, como un cisne de fieltro
Navegando en un agua de origen y ceniza.
Pablo Neruda
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Os saciados forjam na fonte:
O riso rasgado dos dias meio-vividos.
A cor sangra luz no asfalto vazio
E tombam os muros esmurrados há anos.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
E a dor para doer fala
Um idioma estranho.
Já não sei nada do que falta.
Já me falta saber tudo.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Ponteiros pontuam: Eu: há semanas:
A corda desossa os barcos e reclamo:
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Há uma falta serena de cor
Do que foge.
Há uma falta na flor que consome.
Meus olhos. Meu sangue. Meu nome.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
E um amor de visita preso na garganta.
Um balde de sangue jorrando um brilho
E um homem cinza dizendo:
Há uma meia-tinta na palidez hoje.
Um poeta pregando dedos na cruz
Ao percorrer sua VIA dizendo o que sente.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um teatro de sombras;
Um Espantalho de Flores;
Um armário trancado;
Um arcabouço de raízes.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um Franco-atirador voltando para casa;
Um homem dizendo não por vez primeira;
Uma lua afogada na falta de memória;
Um Títere e seus panos de medo.
Eu que não sei ser pálido.
Eu que não sei ser cinza.
Eu que não sei ser tíbio.
Eu que não sei ser brisa.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um Grito de Loucos na noite
V a z i a
Há um susto no sol;
Há uma flama de amor
Mastigada no suor
De um sangue em bemol.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um arcado anjo
Na tempestade.
Um calar de voz suada.
Um flanco aberto às 6 da tarde.
Há uma meia-tinta na palidez hoje.
Um desdizer e um arfar.
Um precipício sem pontes.
Areia lambendo o mar:
Um voltar sem “ondes”.
Há uma meia-tinta na palidez hoje;
Há um meio-dizer no que digo que ouço;
Há um pálido tom no gostar de meu gosto.
E minha vida feita vidraça ao longe.
Julio Almada
In Em um Mapa sem Cachorros
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