quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Observada no metrô


“Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer.”
(Charles Dickens)
...o que fazer com os olhos abertos, senão povoar a nave da mente com as imagens rebeldes de qualquer deserto?
Púrpura, roxo, nuances, uma blusa qualquer, linda sim, era a cor massageando suas faces sorridentes.
O alvo da pele e o carmim dos lábios mordiscadores.
A minha solidão enfrenta amiúde, essas doces feras, de recatadas investidas e desejos entorpecedores.
Vê-la foi desnudar minha infelicidade. Tornar gigantes, os dias de mesquinhas insignificâncias. Diante da dádiva vemos nossa falta.
Nos meus olhos, nunca antes houvera, a centelha por ela deixada. Seu olhar era uma perfilada busca do infinito. Imóveis músculos na face tornados guardiões de qualquer desejo escondido. Não a decifraria. Meus dias não seriam suficientes. Assim como palavra nenhuma, trocamos, nosso segredo foi, nenhum. Nos meus olhos nunca antes houvera, a centelha por ela deixada.

Julio Almada, Do livro Caderno de Ontem

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