Aves passaram rapidamente fazendo uma sombra sobre o meu
rosto. Afastei-me da janela. Caminhei pela casa seguindo os raios que a cada
momento trocavam de lugar.
Equinócio.
Na mesa o café estava servido. Uma cesta com pães, em
pratinhos bolachas, e xícaras com pires sobre uma toalha bordada em ponto cruz.
Greice Kelli, pernas de saracura.
Procurava encontrar o horizonte dali da janela. Tem mania de camuflar-se. Às vezes
arraia ou pedra. Por vezes faz-se numa cor. E quanto não tem outro jeito ela
voa até um lugar seu, segredado.
Essa que vos escreve, está preocupada com o que Greice Kelly
anda fazendo; diz ela que são drenagens com as palavras de um conjunto de
elegias que pretende publicar.
Pergunto como vai o trabalho. Ela volta os olhos para mim,
coça as asas e senta-se na cadeira junto à mesa. Serve-se de café com leite.
Acompanha com os olhos o vapor do café que voa no ar.
Todo silencio está na casa até ela falar de um sonho que a
acordou no meio da noite. Foi em Istambul; um livro de elementos da iconografia
fechou-a na página 12. Ela pescava com seu bico fino palavras as quais não
decifrava. Quando acordou estava toda vestida de um código inenarrável de um
mundo novo a contar.
De Mara Paulina Arruda
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