1. Vitória, uma criança, soluçava na biblioteca.
2. Um poeta. Cabelos ralos e brancos. Ele lia, com grande
esforço, os versos que tinha desenvolvido no seu último livro. Um grupo de
estudantes escutava-o entendendo os gracejos que fazia de si mesmo.
3. Vitória soluçava porque se perdera de seus pais entre as
variadas fileiras das estantes. Os pais p
rocuravam um autor esquecido e na busca estavam
compenetrados.
4. O poeta interrompeu a leitura de seus versos para falar
do número sete, número cabalístico que indicava o número de rios que conhecia e
que por diferentes motivos o vento levou no pó dos dias. De lá pra cá o número
sinalizava a terceira casa da rua, no meio de um destes rios onde ficaram
guardadas as lembranças de um tempo que atravessava águas barrentas, vindas de
alguma tempestade, na sua infância. Os avôs esperando do outro lado da margem
enquanto ele dobrava a barra da calça para com os sapatos nas mãos pisar em
vãos e pedras que a correnteza cavou.
5. Vitória parou de chorar. E reclamou por não ter sequer
uma caneta por perto e redigir a literatura que ali, bem ali, interrompendo sua
vida, acontecia. Naquele momento isso era o que mais lhe doía!
6. Terminado de ler os poemas o poeta fez um flashback de
sua mocidade, com o corpo arqueado pelo tempo sorriu ao ser aplaudido pela
platéia. E surpreendeu-se ao encontrar nos olhos dos distintos estudantes os
olhos brilhantes de Vitória.
7. O copista dessa história pede escusas, relatou que
eventualidades díspares na hora sagrada desta redação aconteceram sem que ele
pudesse interferir e, por certo, ele jamais poderá assegurar a veracidade da
mesma.
traço, 2.
De Mara Paulina Arruda
Nenhum comentário:
Postar um comentário