sábado, 20 de outubro de 2012

Vitória e a poesia




1. Vitória, uma criança, soluçava na biblioteca.

2. Um poeta. Cabelos ralos e brancos. Ele lia, com grande esforço, os versos que tinha desenvolvido no seu último livro. Um grupo de estudantes escutava-o entendendo os gracejos que fazia de si mesmo.

3. Vitória soluçava porque se perdera de seus pais entre as variadas fileiras das estantes. Os pais p
rocuravam um autor esquecido e na busca estavam compenetrados.

4. O poeta interrompeu a leitura de seus versos para falar do número sete, número cabalístico que indicava o número de rios que conhecia e que por diferentes motivos o vento levou no pó dos dias. De lá pra cá o número sinalizava a terceira casa da rua, no meio de um destes rios onde ficaram guardadas as lembranças de um tempo que atravessava águas barrentas, vindas de alguma tempestade, na sua infância. Os avôs esperando do outro lado da margem enquanto ele dobrava a barra da calça para com os sapatos nas mãos pisar em vãos e pedras que a correnteza cavou.

5. Vitória parou de chorar. E reclamou por não ter sequer uma caneta por perto e redigir a literatura que ali, bem ali, interrompendo sua vida, acontecia. Naquele momento isso era o que mais lhe doía!

6. Terminado de ler os poemas o poeta fez um flashback de sua mocidade, com o corpo arqueado pelo tempo sorriu ao ser aplaudido pela platéia. E surpreendeu-se ao encontrar nos olhos dos distintos estudantes os olhos brilhantes de Vitória.

7. O copista dessa história pede escusas, relatou que eventualidades díspares na hora sagrada desta redação aconteceram sem que ele pudesse interferir e, por certo, ele jamais poderá assegurar a veracidade da mesma.
traço, 2.

  De Mara Paulina Arruda

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