sábado, 6 de dezembro de 2014

TEMPUS FUGIT


O tempo fugiu – antes
que eu pudesse colher
o meu dia. E agora
jaz amargo o meu vinho
e há cinzas no meu prato.
Não posso mais dizer:
Vem, minha amiga, colher
as flores que abriram
na campina da aldeia.
Pois já não és a mesma
e o mesmo eu já não sou.
O rio que nunca cessa
de correr, e cujo fluxo
ninguém pode deter,
levou todas as flores
e os beijos todos que,
por medo ou por pudor,
eu não ousei te dar.
E até estas palavras,
que eu traço sobre a areia,
o tempo as levará,
tão certo – e breve – quanto
a nossa juventude
num lapso nos levou.
Portanto, todos vós,
que me ouvis nesta noite
de festa e libações,
colhei depressa o dia,
antes que ele, inclemente,
vos colha a todos vós
na imensurável noite
que em breve nós seremos.

Otto Leopoldo Winck

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