...lembro que quando criança o fedor putripestilento do mar
na Praia de Botafogo no Rio de Janeiro me carregava para longe de uma fé na
responsabilidade de governos. Ali aberto a nossos olhos o mais estupendo e
estúpido esgoto da zona sul da cidade. Basta um mergulho para que a acidez
pútrida das águas provoquem ulcerações na pele e hepatites internas. Nos meus
oito anos de idade restava a areia meio cagada para a prática marginal do
futebol de praia, com campeonatos de bolas remendadas e camisas de farrapos
coloridos.
Durante a semana, quando não havia jogos, as traves de gol
tornavam-se puleiros concorridos de urubus, que por ali pastavam entre as
oleosidades desenhando aquarelas de lixos apodrecidos na gelatina de merda das
águas.
Hoje foram os urubus mas lá permanece o Iate Clube do Brasil
que ancora centenas de embarcações sofisticadas nessa baia de bosta. Ali
despejam seus detritos de viagens e inviabilizam o usufruto de um bem público
há décadas.
O Iate clube tem que ser responsabilizado pela construção de
uma marina para seus barcos e canoas estacionarem. A prefeitura devia ter mais
vergonha do que nós.
Alexandre Acampora. dezembro 2014.
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