sábado, 23 de maio de 2015

Camafeu Escarlate
*lendo o poema "animula vagula"**, na Sala SCABI (Solar do Barão), para o Sarau de encerramento da exposição "Mulher, este ser multifacetado".

Criatura hálito de anêmona, uniforme de archote.
Trespasso contigo o corpo dinâmico das embarcações.
Com dentes de telescópio, mastigo tua labareda: sonda.
Radar: a face pulverizada nas águas.
Desenha-me como um monge sassafrás no periélio dos templos,
trabalhando o óleo da pirâmide:
o holocausto líquido que assombra tua testa,
afogueada na crosta da terra.
Nada posso contra tua imolação na pedra fria do meu reino.
Persisto em oração de guilhotinas no pé marcial das tuas marés.
Teus tentáculos chicoteiam as organelas e os meteoros respondem
na cela das cristaleiras.
Meu manto amarelo dissolve como o leão no abraço de um sigilo.
É tua a maquinaria acesa em minha indústria de fantoches,
armazém de peixes e cordeiros.
Hoje, sou teu demiurgo no marinho fátuo de um papel leopardo.

Morcelâmpada,
fulgurita,
no folhetim de teus raios
que fui buscar
debaixo de sete palmos
no coração
hieróglifo do beato
entre nós.


**AC (do Grimório de Gavita)

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