sábado, 23 de maio de 2015

DA METAPOESIA DOS FRACOS



note que alguma poesia contemporânea
quebra linhas formais em demasia,
mas nenhuma linha conceitual é fendida:
e giram-se, ainda, as manivelas mesmas
dos calhambeques dos anos vint’áureos.

centáureos, dinossáureos modernismos
ainda contestam os parnaseabundismos.

sejamos não-acadêmicos, usemos pa-
lavras simples, versos pequenos, vidas
minúsculas: quem tem gênio é técnico,
quem tem cultura, é um esnobe, elitista.
poesia agora se aprende, e se aprende
em clubes de chá para aposentado(a)s.

Ora, direi-te aqui algumas verdades, ainda que te doas!
Quem pregará que a verdadeira beleza é interior, se não o feio?...
Quem ensinará que o espadachim é cruel, se não o derrotado, o fraco?...

Irmão: previne-te contra a gramática dos ressentidos; cuidado com a estética
[estratégica dos medíocres, dos ignóbeis!

Sejamos leões, sejamos feras soltas na linguagem! Vamos entabular o discurso
[fúlgido das coisas, deixar de lado o translúcido, o culpado, o espírito!

Haja uma alma cárnea na voz e nas bandeiras! Um coração de fogo e martelo na
[pulsação dos ritmos; viva o dizer físico, tangível, a concretude da imagem!

Quero a poesia de beijar as bocas, de abraçar os amigos; de espancar os canalhas,
[de vencer as guerras, desnudando a moral, as mentiras; clamando, berrando,
[arrancando do útero de um tempo intumescido em suores e ânsias convulsas,
[ensangüentada e viva de prantos,

— a Pós-modernidade!


Igor Buys

03 de janeiro de 2011

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